Segundo o levantamento divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no começo de maio, os investimentos brasileiros em educação estão abaixo da média internacional. Essa “média” leva em conta os países membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e tem como base os números de 2010. O Brasil, no caso, investe cerca de 5% do dinheiro público em educação e está 2% abaixo do padrão. Para alcançar esse padrão seria necessário quase dobrar os investimentos e, segundos as projeções, o país só seria capaz de chegar aos 7% daqui há cerca de oito anos.
O investimento financeiro, porém, não é o único aspecto no qual a educação brasileira está “ficando para trás”. Há mais ou menos dez anos existe um projeto sendo desenvolvido “lá fora” (principalmente nos Estados Unidos), em instituições de ensino de grande prestígio, chamado Open Course Ware, ou “Curso de Código Aberto”. Ele consiste, basicamente, na inclusão das novas tecnologias também nos cursos presenciais.
Mas é mais do que isso: instituições como Harvard, MIT, Stanford, entre outras de referência mundial, passaram a filmar as aulas e a disponibilizá-las na internet. E não apenas para a rede interna de alunos e professores, mas no site Youtube, para que o conteúdo pudesse ser utilizado por qualquer um, em uma pesquisa acadêmica, ou mesmo por curiosos e interessados. A iniciativa se baseia na noção de que a liberação de informação na internet não faz automaticamente com que um curso se torne irrelevante, mas dá a ele mais visibilidade, mais clareza sobre o currículo, além de contribuir para a geração de um banco de dados mundial de conhecimento científico.
Esse tipo de pensamento ainda não é uma realidade no Brasil. É uma realidade, aliás, extremamente distante. São diversas as barreiras que impedem a informação de circular livre, a primeira delas é a catraca – Já não é costume novo as universidades permitirem que interessados (não alunos) assistam às aulas e até mesmo participem de debates, tirem dúvidas, etc. Nesse canto do mapa, porém, qualquer um que não seja aluno, professor ou colaborador é brecado logo na entrada da instituição, com exceção dos estabelecimentos públicos.
É possível encontrar alguns trechos de aulas na internet, circulando pelo Youtube, Vimeo e outros sites de share espalhados por aí, mas são filmagens amadoras, feitas geralmente com celulares e outras câmeras de baixa qualidade de vídeo. São os produtos iniciais de uma ideia que já foi testada, desenvolvida, aprimorada e aprovada. Quão melhor não seria para o próprio aluno poder rever aquele conteúdo com uma gravação oficial? Veiculada em contas ligadas à própria universidade!
Em discussão com colegas que atuam na área da educação, tive a resposta de que o Brasil não está assim tão atrás: existem cursos EAD para qualquer necessidade, as faculdades já começaram a incorporar as matérias online e muitos professores trabalham com compartilhamento da matéria via internet. Voltamos ao problema inicial: o pensamento institucional brasileiro. Todas essas iniciativas tratam a informação como produto privado. Esse novo formato agride seus padrões, pois surge como uma ameaça para o seu lucro, para sua relevância e até mesmo para a necessidade de uma instituição para oferecer o tal conteúdo. E esse não é, no final das contas, aquele velho e antiquado medo da internet?
De acordo levantamento da Revista Galileu, são cerca de 6.1 milhões de universitários no país (somos o 5º do ranking) e 80 milhões de internautas. Desses números, 66% já utilizam a web para fins educativos. Ou seja, qualquer projeto pensado para essa área tem potencialmente quase 53 milhões de interessados.
Um desses projetos é o site “Veduca”, que começou com uma abordagem menos agressiva às instituições particulares. Ele reúne os vídeos das aulas de 11 universidades dos Estados Unidos (Berkeley, Columbia, Harvard, Michigan, MIT, NYU, Princeton, Stanford, UCLA, UNSW e Yale), e fornece a legenda dos mesmos. De acordo com Carlos Souza, o criador do site, essas aulas só não eram mais assistidas pelos brasileiros porque apenas 2% da população são fluentes em inglês. Com as legendas, a expectativa é que a ideia seja sendo introduzida aos poucos e, quem sabe, ampliada para universidades nacionais.
Porém, enquanto a gente luta para dar um ponta pé inicial por aqui, lá no exterior a coisa já começou a evoluir. Também no começo de maio, a Harvard e a MIT anunciaram o lançamento do EdX – para quem não acompanhou pela mídia, esse é um projeto para oferecimento de cursos online gratuitos, certificados por ambas as universidades. O EdX é um modelo inicial, e deverá receber outras instituições mais para frente.
Com tantas possibilidades nos States, todas gratuitas, disponíveis na internet e abertas para os brasileiros, se o Brasil não se adaptar mais rápido, os 98% da população podem começar a achar mais fácil aprender inglês do que gastar tanto dinheiro.