Desde o dia que saiu o resultado da pesquisa do Instituto pró-livro em 29/03 eu tenho exercido minhas atividades perguntando às pessoas que me cercam sobre seus hábitos de leitura. Muito me intriga saber qual a contribuição das redes sociais para o quadro nacional de desinteresse pela leitura.
A conclusão da pesquisa mostra que o brasileiro não gosta de ler, pois não associa a leitura a momentos de lazer. Isso é bastante triste, merece considerações sobre educação, mas não é o caso dessa coluna.
Ocorreu-me que as redes sociais são um sucesso extremo no Brasil – a ponto de termos má fama – porque elas sintetizam o tamanho do interesse do brasileiro na leitura. A atividade de leitura nas redes sociais é imensa também, porém os textos, como se apresentam, refletem a capacidade de concentração e os interesses dos grupos aos quais pertencemos. Desta forma, é possível dizer que essa onda infindável de imagens com frases, memes, links e fotos é reflexo de uma cultura que pouco se dedica à leitura sem ser por obrigação.
Faça um teste. Coloque uma imagem engraçada, de preferência um momento de curtição na praia, bebendo entre amigos, ou fantasiado antes de sair pra balada em sua Timeline e veja a quantidade de interações. No outro dia, coloque um poema inteiro de seu autor favorito. Ou então, coloque em um dia um link para uma notícia importante e no outro apenas uma frase do tipo: “estou cansado de trabalhar”. Veja os resultados.
Isso ocorre porque temos uma cultura de oralidade muito forte. É bem mais interessante ao brasileiro ouvir, falar e replicar, que ler. Além disso, a cultura televisiva dá a informação pronta aos telespectadores e não estimula o aprofundamento das questões. Por isso, deixamos ao cargo dos Trend Topics e dos 140 caracteres, a formação do universo de informação que acaba por formar nossa opinião.
Lá atrás, na época áurea dos blogs já se discutia muito o reducionismo linguístico. Hoje, os blogs já são referência de profundidade acadêmica se comparados com o Tumblr, por exemplo. Bastam 300 caracteres aproximadamente para que o “veja mais” do Facebook apareça e jogue a responsabilidade pela leitura do restante ao usuário.
Não quero aqui fazer uma crítica ferrenha a quem não lê. Mas quero apenas analisar, ou identificar os aspectos das redes sociais que contribuem para que isso continue sendo um problema cultural em nosso país. Não me atrevo a responder a pergunta: “Que escola é essa que não forma leitores?”. Não aqui. Mas me atrevo a pedir que conteúdos que estimulem a leitura e o aprofundamento sejam gerados e que o ato de escrever e ler ganhe o status de “feito com prazer”.
Carlos Vidigal é diretor da Ciclope Treinamentos e Consultoria, Professor da FGV e amante das interações digitais.