Meus pais nasceram na década de 1960, logo, são babyboomers. Eles têm como característica a busca pela estabilidade e pelo conforto. Prezam pela tradição, pelo clássico e pelo trabalho que passa de geração em geração.
Os nossos hábitos, em resumo, reúnem tudo o que mais os assusta: mudanças drásticas, sem grandes avisos prévios, constante inovação, trocas de ambientes e o universo online.
Meu pai tem o computador inserido na rotina de trabalho há muito tempo, por atuar na área de recursos humanos e depender de tabelas e gráficos para o controle das atividades do departamento. Ele também tem facilidade em entender a lógica do funcionamento das coisas, e não tem medo de fazer pequenos reparos nos aparelhos eletrônicos e iluminação de nossa casa. Porém, apesar da habilidade, deixa claro que a única tecnologia que lhe interessa é o home theater. Não entende a nossa (da juventude) fixação pela internet e muito menos pelas redes sociais.
Mas a principal peculiaridade dessa geração – que aqui represento pela personalidade do meu pai – é a necessidade da “presença da marca”. O que, por exemplo, faz com que ele prefira saber as notícias apenas por grandes veículos de comunicação. Há uma confiabilidade no jornal assinado e uma falta de interesse em buscar outros meios, outras versões, outras opiniões, mais informações e desdobramentos daquela mesma realidade. Afinal, “se foi a Globo que disse…”.
Colocando esse tipo de comportamento em perspectiva ao das novas gerações, temos um resultado irônico. Consideremos os últimos anos da geração X e a geração Y. São pessoas mais abertas a outros canais de comunicação, que recebem informações mais variadas, de mais fontes. O fluxo de conhecimento é cada vez mais amplo, rápido e acessível. Há uma imensidão de plataformas, veículos e ferramentas para a distribuição de conteúdo. Porém, nessa tal imensidão, como diferenciar uma informação legítima das brincadeiras e piadas tão características das interwebs? Como medir a relevância de um assunto na internet, ou mesmo no plano off-line? Embora menos limitadora, a iminente necessidade por uma marca que valide um conteúdo, um blog, um canal alternativo, uma nova iniciativa cultural, acaba fazendo-se presente. Nós, assim como a geração do meu pai, ainda buscamos pela afirmação dos “grandes”.
Mas nem tudo está igual. Diferente do meu pai, o trabalho da minha mãe não exige uma grande interação com o computador, ou qualquer software fora do pacote office. Ela atua na elaboração e implementação de projetos sociais na prefeitura de uma cidade do interior de São Paulo. Além da visível dificuldade em lidar com os aparelhos eletrônicos mais “tecnológicos”, como os tablets, os celulares smartphones e até mesmo alguns comandos do próprio computador, ela também não sabe mexer na função SAP da TV a cabo. Mas, novamente diferente do meu pai, o interesse dela pelo mundo digital recai sobre o tópico educação.
Primeiro ela descobriu o Youtube. As músicas que ela gostava, com as imagens de seus filmes preferidos. Os vídeos de culinária com os passo a passo de receitas elaboradas. As dicas de como cuidar de cada espécie de planta que ela tem no jardim. Os vídeos tutoriais de origami. E, por fim, as aulas de idioma. Ela sempre relutou com a ideia de aprender inglês pela preguiça de fazer aulas e pela dificuldade de absorver novas informações. Porém, com os tais vídeos, que são curtos, simples e mais ou menos no estilo do antigo “telecurso”, ela conseguiu progredir e começar a gostar da ideia. Ela também aderiu ao EAD, e agora faz cursos de extensão na sua área.
O mesmo vale para a minha irmã, de quatorze anos, que já nasceu sabendo upar foto no Facebook. Ao contrário da minha mãe, ela não entrou na brincadeira conscientemente. Pelo gosto por maquiagens e assuntos de beleza e moda, ela começou a acessar vlogs, tutoriais e canais de maquiadores, artistas e outras personalidades, para aprender alguns truques. Os truques começaram a ficar complexos e o gosto por desafio aumentou. Nasceu uma vontade de conhecer canais internacionais, que muitas vezes não dispõem de legendas. Agora ela se aventura por canais americanos, canadenses e às vezes alguns ingleses, quando o sotaque não atrapalha no entendimento.
Nesse cenário, a diferença das gerações está justamente na liberdade ao lidar com a tecnologia. Para “os jovens”, nativos da internet, até mesmo as fronteiras de idioma são menores, uma questão de exposição e costume. Para os babyboomers, as fronteiras são os padrões de comportamento, que impedem meu pai, por exemplo, de se integrar com redes como o Linkedin, e minha mãe de se conectar à internet pelo celular.
Segundo José Luís Poli, criador da tecnologia Palma – um aplicativo que auxilia na alfabetização de jovens e adultos por meio do celular -, o segredo é usar a intuição. Ele percebeu que apesar de não saberem ler, os alunos sabiam utilizar o celular. Era algo natural, intuitivo, e cravado em seus cérebros pelo costume.
Essa mesma lógica é aplicável aos meus pais e à minha irmã, que são de gerações diferentes: os comportamentos, costumes e rotinas ditam a facilidade, dificuldade e intensidade com que interagimos com o mundo, com as novas informações e um com o outro, no geral. Cabe a nós investir em um aplicativo que integre todos os tipos de pessoas. Ou quem sabe fazer disso um costume.